A política brasileira é uma intrincada teia de interesses, em que líderes de partidos frequentemente debatem estratégias divergentes para atingir seus objetivos. Em 2020, essa divergência ganhou destaque no partido Democratas, com o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o influente político Antonio Carlos Magalhães Neto, conhecido como ACM, liderando alas opostas dentro da legenda. Essa disputa ilustrou um princípio fundamental da política de que “toda a política é local”.
O auge de Rodrigo Maia
Em 2020 Rodrigo Maia era o presidente da Câmara dos Deputados e um dos protagonistas da política brasileira. Presidente da Casa desde 2016, sucedendo Eduardo Cunha, e em um momento de maior autonomia do Congresso Nacional em relação ao Executivo, destacou-se ao arbitrar diversos acordos que possibilitaram reformas econômicas importantes, como a Regra do Teto de Gastos, a reforma trabalhista e a reforma da previdência.
A divisão do Democratas
Naturalmente, Rodrigo Maia era uma das figuras mais influentes do Democratas e defendia uma estratégia de nacionalização do partido. Ele argumentava que a agremiação deveria se envolver em questões nacionais e até mesmo disputar a eleição presidencial em 2022 – em que aliados dele próprio cogitavam a possibilidade.
Contudo, essa visão encontrou resistência significativa dentro do partido, liderada por ACM, uma ala do partido que advogava pela priorização da política local.
ACM e seus aliados enfatizavam que o Democratas não era um dos maiores partidos do país e que a participação em eleições presidenciais era dispendiosa e arriscada. Eles argumentavam que o verdadeiro caminho para fortalecer o partido estava em eleger parlamentares para o Congresso Nacional, o que permitiria ao partido ter uma influência mais direta na alocação de recursos federais e na definição de políticas públicas.
Arthur Lira se elege presidente da Câmara dos Deputados
A disputa antes velada entre Maia e ACM teve seu maior capítulo na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados de fevereiro de 2021. Baleia Rossi (MDB) era apoiado por Rodrigo Maia para sucedê-lo, e enfrentou Arthur Lira, do partido Progressistas (PP), na corrida pelo cargo. Mas, ao contrário do que poderia se esperar, muitos membros do Democratas optaram por apoiar Lira, em vez de seguir a orientação de Maia, seu correligionário.
A explicação para essa divergência está no princípio de que “toda a política é local”. Muitos prefeitos do Democratas viam a relação com o governo federal como essencial para obter recursos e financiamento para seus municípios. O confronto público entre Maia e o presidente Jair Bolsonaro prejudicava essa relação. Os prefeitos, cientes de que suas regiões dependiam dos recursos federais, exerceram pressão sobre os deputados do partido para derrotar Maia e apoiar Lira, que era visto como mais alinhado ao governo federal.
A queda de Rodrigo Maia
Arthur Lira sagrou-se vencedor, e Rodrigo Maia gradativamente retirou-se do cenário político nacional. Assumiu a Secretaria Estadual de Projetos e Ações Estratégicas de São Paulo no Governo de João Dória (PSDB) e nem sequer candidatou-se para as eleições em 2022. Atualmente atua com relações governamentais na Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF).
Ainda durante o processo eleitoral na presidência da Câmara, ACM liderou articulações que permitiram o Democratas se tornar a sigla que mais cresceu em números absolutos nas eleições municipais de 2020. O número de prefeituras conquistadas aumentou de 268 para 464, uma alta de 73%, sendo quatro deles prefeitos de capitais. Um ano após a derrota de Baleia Rossi, em fevereiro de 2022 o Democratas fundiu-se com o PSL e deu origem ao União Brasil, que passou a contar com 568 prefeitos.
Considerações finais
A derrocada de Maia ilustra como os interesses locais podem prevalecer sobre as estratégias e objetivos nacionais na política. Em última análise, a história do embate entre Rodrigo Maia e ACM dentro do Democratas nos lembra de que a política é um jogo de xadrez, em que a interação entre interesses locais e nacionais molda o cenário político.
É um lembrete de que, para entender e influenciar efetivamente a política, é essencial compreender o princípio de que “toda a política é local”.