Groucho Marx resumiu o humor de forma brilhante, com a fórmula “tragédia + tempo = comédia”. É um fenômeno comum que eventos trágicos se tornem engraçados quando olhamos para eles em retrospecto. O segredo, e o papel essencial do comediante, é antecipar-se e transformar a tragédia em algo imediatamente risível.
O riso, de fato, é um poderoso antídoto para as dores da vida. No entanto, a comédia tem enfrentado desafios e restrições no Brasil nos últimos anos, evidenciados por diversos episódios de censura. Desde o especial de Natal do Porta dos Fundos na Netflix em 2019, passando pela condenação penal do humorista Danilo Gentili, até a autocensura de Bob Nunes, que deixou de fazer piadas sobre a política local do Piauí após uma condenação civil por uma de suas piadas. Entre os casos mais notáveis, está o de Léo Lins, cujas turnês de shows foram alvo de quase 50 tentativas de censura, além de condenações civis e até mesmo decisões judiciais com restrições à sua liberdade.
Essas tentativas de censura, seja por meios não oficiais ou através de decisões judiciais, buscam impedir o trabalho de humoristas que sobem ao palco para fazer as pessoas rirem e ajudá-las a lidar com questões difíceis e complexas que, sem o humor, tornariam a vida praticamente insuportável, como defendia o escritor britânico Oscar Wilde.
As justificativas mais comuns para essas tentativas de restringir a liberdade de expressão baseiam-se na intenção de “evitar discursos de ódio”. No entanto, é importante lembrar que a defesa da abolição da escravidão já foi enquadrada como discurso de ódio, assim como falar sobre o direito ao voto feminino ou defender o amor entre pessoas do mesmo gênero. Parece inacreditável que esses assuntos um dia tenham sido considerados tabus, mas durante muito tempo, sequer podiam ser abordados. Ao permitir a liberdade de expressão e arte em relação a todos os temas, não estamos banalizando tais questões; pelo contrário, estamos fornecendo a oportunidade de discuti-las e compreendê-las.
É exatamente por isso que políticos e governantes temem tanto uma simples piada. Como afirmou HH Hoppe, o humor e o riso são ferramentas poderosas capazes de ameaçar o status quo e representam uma das coisas que mais inquietam um governante.
Um comediante possui um papel fundamental de questionar, provocar e fazer refletir, sem amarras ou filtros. Não devemos temer o riso, pois ele tem o poder de unir as pessoas, de fazer com que enxerguemos além das diferenças e, de certa forma, nos liberta, ao nos consolar.
Por fim, é importante lembrar que o humor é subjetivo e que cada pessoa tem suas preferências. No entanto, em um Estado de Direito, impedir um comediante de exercer sua profissão não deveria ter espaço. A censura limita nossa capacidade de rir e de encontrar alívio nas adversidades da vida. O humor é uma forma de expressão valiosa que deve ser protegida e valorizada como um elemento fundamental da liberdade de expressão.