Luan Sperandio

Análise baseada em dados, evidências e literatura científica para facilitar a compreensão da política, da economia e do mercado.

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política, economia, filosofia, mercado

Por que a direita domina as redes sociais?

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O deputado Nikolas Ferreira (PL/MG) é o parlamentar com maior engajamento nas redes sociais.

Em um cenário político cada vez mais permeado pelas redes sociais, o engajamento de integrantes da direita prepondera em relação à esquerda. Apesar de ter retornado ao Palácio do Planalto, o Governo Lula ainda se mostra muito analógico, tendo dificuldade na arena digital. Não à toa, apesar de colher bons resultados econômicos em 2023, a popularidade e a avaliação do governo caíram ao longo do ano.

É o que afirma Larissa Lima, analista de relações governamentais e especialista em dados da BMJ Consultoria. O que explica esse cenário?

A guerra política nas redes sociais

A economia cresceu acima de 3% em 2023. O desemprego caiu. O ciclo de queda de juros foi iniciado. Apesar das notícias positivas, a popularidade do presidente Lula caiu ao longo do ano. O que explica isso? Como quase tudo na política, a explicação tem natureza multifatorial.

“Geralmente a popularidade presidencial está associada ao desempenho econômico, mas não só isso. O governo Lula enfrenta obstáculos em pautas de costumes, diretamente relacionadas à percepção da população sobre a sintonia do governo com seus valores. Pesquisas anteriores indicavam um alto grau de conservadorismo, e a oposição tem sabido explorar esse campo de batalha de forma eficiente”, afirma Larissa.

Larissa Lima é analista de relações governamentais especializada em análise de dados da BMJ Consultoria.

Com escorregões do governo, a oposição tem explorado crises relacionadas a pauta de costumes. 

Em outubro, por exemplo, um dos temas mais abordados na rede foi uma apresentação do Ministério da Saúde com uma dança de teor sexual. A oposição conseguiu utilizar o assunto para desgastar o governo, que reconheceu o erro.

Outro exemplo citado pela analista ocorreu em virtude do julgamento da descriminalização do aborto no STF, iniciado em setembro pela Ministra Rosa Weber. O tema é majoritariamente rechaçado pela maior parte da população, mas também desgastou o governo. “Durante a campanha, Lula se sentiu pressionado para se colocar contra o aborto. O assunto ter voltado a pauta gerou a percepção nas redes de que o assunto retornou em virtude do governo atual. Além disso, há também uma associação a partir da proximidade do governo com o STF, que possui rejeição alta por parte da população”, analisa.

A estratégia da oposição nas redes sociais

A forma como a oposição se posiciona nas redes sociais também é distinta dos parlamentares da base. “Parlamentares da base governista publicam consideravelmente mais. Em alguns períodos do ano, deputados do PT publicaram 7 vezes mais do que os do PL. No entanto, a oposição engaja muito mais, especialmente em pautas relacionadas a costumes. Houve períodos em que o engajamento médio por publicação de parlamentares da direita foi 6 vezes superior”, analisa.

Segundo Larissa, a performance proporcional da bancada de parlamentares do Novo possui o melhor desempenho do Congresso, seguido pelo Avante (em virtude principalmente do deputado André Janones), com o PL em terceiro e o PT sendo somente a sétima colocação.

“É importante ter cuidado, já que esses engajamentos nem sempre representam interações positivas. Podem incluir números de pessoas que se posicionam de forma contrária ou compartilham críticas”, pondera Larissa.

O fantasma de Dilma Rousseff ainda assombra o governo Lula

Uma das principais estratégias bem sucedidas para a oposição está relacionada ao fato de explorar narrativas que remontam ao governo Dilma Rousseff. “Apesar dos resultados econômicos, a base do governo consegue explorar bem a narrativa de que o governo Lula está repetindo erros da gestão de Dilma, cuja memória ainda está muito viva na mente das pessoas”, explica.

Oposição tem sabido associar ações do Governo Lula ao de Dilma Rousseff (PT).

Nesse contexto, a oposição tem concentrado ataques contra o Ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT), especialmente diante dos projetos que visam o aumento de arrecadação.

A narrativa utilizada segue a lógica de que as melhorias econômicas atuais são resultados do governo Bolsonaro, mas que as consequências do governo Lula serão ruins e sentidas mais a frente.

Quanto ao papel do governo, Larissa destaca que “apesar de implementar muitas políticas públicas, há uma dificuldade em se ajustar a essa nova dinâmica das redes sociais”. As pautas positivas criadas pelo governo, como o Desenrola Brasil, movimentam as páginas do governo e os parlamentares da base, mas não conseguem o mesmo engajamento.

Nesse sentido, em geral a oposição tem ignorado esses assuntos nas redes que envolvem principalmente políticas públicas, o que diminui a vazão do próprio governo em noticiar algo que tende a ser bem recebido. “A oposição só entra em campo para falar de uma política pública quando é para explorar uma fragilidade evidente ou má comunicação do governo, como ocorreu após o relançamento do Mais Médicos, no início do ano”, explica Larissa.

Nesse sentido, para a analista, um acerto do governo seria focar justamente em políticas públicas, e buscar se desvencilhar de associações entre elas e Dilma Rousseff. “Se o governo bater de frente com a oposição nas redes, será derrotado. Uma estratégia efetiva seria focar, justamente, em políticas públicas”, conclui.

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