Luan Sperandio

Análise baseada em dados, evidências e literatura científica para facilitar a compreensão da política, da economia e do mercado.

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política, economia, filosofia, mercado

Intervir na Petrobras é repetir aventura que já deu errado

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Intervir na Petrobras

Escalada do preço do barril do petróleo, queda de produção entre importantes produtores e acordo político entre a OPEP para manutenção de valorização dos preços, além da retomada econômica global. Os fundamentos para a Petrobras são promissores, mas há um governo no meio do caminho querendo intervir.

Resultados da intervenção de Bolsonaro

No último dia 19, as ações preferenciais da companhia caíram 6,63% e as ordinárias despencaram 7,92% no pregão diante à troca de comando na Petrobras. O aumento do preço do petróleo no mercado internacional e a desvalorização do real frente ao dólar resultaram no aumento dos combustíveis.

Isso após a desvalorização chegar a até 21% para a gasolina e 14% para o diesel quando comparado com o mercado internacional. Os reajustes da companhia, repassando os preços, desagradou setores da sociedade e motivou críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Assim, a queda nas ações refletiu a precificação desse movimento.

Governo intervir na Petrobras já aconteceu antes

Os temores de investidores não são à toa: o governo de Dilma Rousseff foi marcado pela manipulação de preços da empresa de economia mista a fim de controlar a inflação. A própria empresa calcula que decisões de não repassar os preços internacionais para o diesel e à gasolina entre 2008 e 2018 causaram prejuízo de R$180 bilhões para a estatal.

Para efeitos de comparação, segundo laudo da Polícia Federal de setembro de 2016, os prejuízos que a Petrobras teve com os esquemas de corrupção desvendados pela Lava Jato poderiam chegar a até R$42 bilhões, isto é, quatro vezes menos.

Considerações finais

Estatais não podem ser utilizadas para se fazer campanha de reeleição, políticas públicas e tampouco assistencialismo aos mais vulneráveis — para isso, o governo já dispõe de enorme orçamento e ferramentas que são, inclusive, mais eficazes. Mais do que isso: ao intervir na Petrobras, não será prejudicado apenas quem investiu em ações da empresa. Em última análise, toda a população sofre devido à desconfiança gerada, às instabilidades e até aos riscos de desabastecimentos.

Além disso, há ainda outros problemas. O governo já anunciou a suspensão de tributos federais sobre o diesel por dois meses, o que custará  aos cofres públicos cerca de R$3,3 bilhões no período. Esse fato, por sua vez, pode elevar a pressão internacional sobre políticas ambientais no Brasil. Finalmente, é provável que as dificuldades fiscais aumentem ao pressionarem o Ministério da Economia: afinal, como será compensado esse valor? Eis a questão.

A Petrobras encerrou o quarto trimestre de 2020 com resultado financeiro líquido positivo em R$6,81 bilhões, contra o desempenho negativo de R$22,91 bilhões registrado no trimestre anterior.

Em suma, a expectativa do mercado é de que a estatal registre ganhos de R$34 bilhões em 2021. Tal resultado, contudo, depende dos valores do barril do petróleo. E também de o governo desistir de praticar aventuras que no passado já deram muito errado.

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