Luan Sperandio

Análise baseada em dados, evidências e literatura científica para facilitar a compreensão da política, da economia e do mercado.

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política, economia, filosofia, mercado

Pesquisa revela o que os brasileiros pensam sobre a função do Estado

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Pesquisa da Atlas Intel apontou que a maioria dos brasileiros espera e deseja que o Estado intervenha em áreas essenciais — só que de uma forma mais eficiente e sem o mesmo peso atual da máquina pública. Nos princípios que regem a economia, a tendência mostrada é a favor de maior liberdade econômica.

Em minha coluna Data Business, conversei com Diogo Costa, doutor em Ciência Política e CEO do Instituto Millenium.

O que a pesquisa Atlas mostrou

Em diversos pontos a maioria dos brasileiros se mostra alinhada com valores liberais. A metodologia do levantamento criou uma escala de 0 a 100, em que o índice geral foi de 48 pontos em favor de ideias de maior liberdade econômica. Isso significa que quase metade da população deseja um Estado menor e menos burocrático.

Algumas perguntas se destacaram por mostrar maior adesão aos princípios liberais.

Diminuir o tamanho da máquina e reduzir os gastos do setor público teve um índice de 70 pontos, mostrando que o brasileiro, por mais que defenda certa intervenção, prefere que esta seja mais pontual e eficiente.A ideia que mais agradou os entrevistados da amostra é a de que deva existir maior competição e liberdade para empreender, com 83 pontos.

Outra que se destaca é a de que uma regra com limitação de gastos, como a regra do teto, vigente desde 2016 quando foi implementada pelo Governo Temer, deve ser respeitada para evitar endividamento, com 69 pontos.

O número é simbólico em um momento em que no final de 2022 o Congresso Nacional aprovou o limite de gastos permitido em R$ 145 bilhões. O Ministério da Fazenda deve encaminhar projeto com novo marco fiscal no primeiro semestre, mas os critérios ainda são incertos.

O que o levantamento mostra sobre a população brasileira

“Mesmo que a sociedade brasileira não seja consistente liberal, há indícios que o plano de vida das pessoas faz sentido dentro do plano de vida mais liberal”, afirma Diogo Costa, CEO do Millenium. “Eles consideram importante o estímulo à competição e ao empreendedorismo, o que é compatível com um país que ocupa o topo em levantamentos de empreendedorismo”, complementa.

De acordo com a Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o Brasil está na primeira posição no ranking de empreendedorismo, à frente de nações como China, Estados Unidos, Reino Unido, Japão e França. Segundo o levantamento, três em cada dez brasileiros entre 18 e 64 anos possuem uma empresa ou estão envolvidos com a criação de um negócio próprio. Em 10 anos, essa taxa de empreendedorismo aumentou de 23% para 34,5%.

“Essa vontade de empreender e ser gerador de valor é muito significativa. O Brasil se destaca também com um número de empreendedores digitais maior do que todos os pares, em 83%, que são um dos tipos de empreendedores mais inovadores. Esse plano de vida do brasileiro já mostra o tipo de sociedade que ele quer viver, que é uma sociedade alinhada com princípios de uma economia de mercado”, afirma Diogo.

Ele ressalta que nas perguntas mais específicas a respeito de temas econômicos, os respondentes vão na intuição. “Não estão necessariamente alinhados com o bom senso econômico, mas os números da pesquisa mostram que claramente há uma desconfiança com setor público inchado, o que é muito relevante”, analisa.

“Faz sentido estatais responsáveis pela fabricação de camisinha na região norte ou o Estado investir uma fatia relevante do orçamento na construção de estádios? Parece que a maioria dos brasileiros já entendeu que não”, afirma.

Mas Costa demonstra que esse é apenas o primeiro ponto da discussão política. “Fica claro que os brasileiros entendem que o Estado pode ter funções importantes, como saúde e educação, mas a máquina não deve ser inchada. A questão é qual participação seria essa, pois ela não precisa necessariamente ser operada e gerida pelo Estado. Há modelos com alternativas interessantes, como o de vouchers em que o financiamento pode ser dado pelo Estado e a operação ser privada”, argumenta.

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