Luan Sperandio

Análise baseada em dados, evidências e literatura científica para facilitar a compreensão da política, da economia e do mercado.

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política, economia, filosofia, mercado

O que esperar da CPI do MST?

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Em um contexto em que os parlamentares buscam maior protagonismo, a abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) ganha relevância no cenário político.

Há grande expectativa em relação às atividades de várias CPIs, como a CPI dos Atos Antidemocráticos do Dia 8, que investigará eventos relacionados, a CPI das Lojas Americanas, com o objetivo de apurar inconsistências contábeis na empresa, e a CPI das Apostas Esportivas, que investiga casos de manipulação de resultados.

No entanto, a CPI que provavelmente causará mais desgaste ao governo Lula é a CPI do MST.

As expectativas para a CPI do MST

A CPI do MST tem como foco a investigação das invasões de terras produtivas e as possíveis relações entre o movimento e integrantes do governo Lula. Além de ser um tema sensível, que desperta repercussões diante das invasões recentes, como as ocorridas nas terras da Suzano em março, a composição da CPI não favorece o governo:

Os deputados Tenente Coronel Zucco, Kim Kataguiri e Ricardo Salles assumirão, respectivamente, as funções de presidente, vice-presidente e relator da CPI do MST. Todos eles são opositores declarados do governo.

“É inegável a forte ligação do MST com o PT. Portanto, qualquer desgaste eventual das lideranças pode respingar no governo. Não é surpreendente que o PT tenha indicado nomes como Gleisi Hoffmann, presidente do partido, para compor a comissão. Isso indica preocupação”, afirma Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice.

Cristiano Noronha (@CNoronha) / Twitter
Cristiano Noronha é vice-presidente da Arko Advice.

Noronha acrescenta que o agronegócio é um setor econômico-chave no Brasil, o que aumenta o peso político da CPI, uma vez que possui uma forte resistência ao MST. “A relação entre o governo e o agronegócio é tensa, e a CPI pode agravar ainda mais o conflito”, complementa o analista.

O governo tem tentado se aproximar do agronegócio por meio de ministros, como a partir de declarações de Alexandre Padilha (ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República) e Paulo Teixeira (ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar). No entanto, a percepção é de que essas ações foram tímidas. O presidente Lula, por exemplo, não se manifestou de forma clara condenando as invasões de terras.

“Além disso, o governo faz gestos de aproximação com o MST, como levar João Pedro Stedile, representante do movimento, em comitivas para viagens internacionais, ou a presença do vice-presidente em feiras do MST. Isso gera a percepção para integrantes do agronegócio de que o governo apoia o movimento”, explica Noronha.

O analista político avalia que se as manifestações do governo Lula fossem mais firmes, talvez a CPI não tivesse sido instalada.

Uma “Lei de Brasília” é que “se sabe como as CPIs começam, mas não como terminam”, isto é, pode-se gerar muitos embaraços ao governo a depender da tramitação. Outra “Lei de Brasília” é que “as CPIs tendem a gerar desgaste maior ao governo durante as sessões do que por meio de seus relatórios finais”. Embora os trabalhos mal tenha começado, já se pode afirmar que esse tipo de CPI atrai muito a atenção da mídia e causará impactos ao Governo:

“Essa CPI pode dificultar a estratégia do governo de divulgar uma agenda positiva e também pode aumentar o custo das negociações políticas com o Congresso”, conclui Noronha.

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