O desempenho da Petz no mercado de ações traz uma boa lição sobre assimetria de informação.
A companhia é a maior rede de pet shop do Brasil, especializada em serviços e venda de produtos para animais de estimação e também aqueles exóticos que são domesticáveis.
Há muitos fatores deste segmento que são promissores. Entre eles, o fato do Brasil já ser o terceiro país em número de animais domésticos no mundo, tendo crescido quase 50% entre 2019 e 2021, segundo a Radar Pet 2021 do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal. O faturamento também tem crescido a múltiplos interessantes, superior a 20% ao ano na última década. Esse cenário ocorreu em virtude da mudança de comportamento de grande parcela da população, que passou a humanizar seus animais de estimação.
Com as expectativas favoráveis, nos primeiros 11 meses da abertura de capital da Petz na B3, a bolsa de ações brasileira, seu desempenho foi animador: 66% de crescimento entre setembro de 2020 e agosto de 2021.
Desde então, caiu 74% na comparação com dezembro de 2022. A queda no ano supera os 50%, mesmo tendo tido um rally de quase +50% no início do ano. Após abril, contudo, as ações viraram para o negativo.
É verdade que parcela dessa desvalorização é explicada pelo cenário macro atual, que impactou a maioria das empresas no mercado doméstico, principalmente as de growth (crescimento), que demandam capital para investir suas atividades. Este é, justamente, o caso da Petz. Isso ocorre porque o ciclo atual de alta dos juros, que chegou a 13,75%, impacta em fundamentos das empresas, ao reduzir o consumo e elevar as despesas. Outro fator é que, com a Selic mais alta, aumenta-se a atratividade por ativos de menor risco, como os de renda fixa.
No primeiro trimestre do ano, o lucro contábil da Petz recuou -67% em comparação ao mesmo período do ano anterior. As ações caíram -13% no mesmo dia, mas uma análise mais parcimônia mostra o nível de assimetria dessa informação. Afinal, o lucro ajustado da empresa, que exclui itens não recorrentes, aumentou 58% na mesma amostra, evidenciando que a rentabilidade da empresa cresceu, apesar do cenário macro ter piorado.
Outro exemplo ocorreu no segundo trimestre, quando a Petz apresentou aumento de 36% no lucro, mas as ações caíram quase 10% no pregão da data de divulgação. Isso em um cenário em que a companhia foi às compras, em uma agressiva estratégia de fusões e aquisições (M&A), além de investimentos na expansão da marca.
Ou seja, enquanto as ações caem, os lucros da empresa estão crescendo, com perspectivas de crescimento dos resultados para os próximos anos.
O segmento de pets ainda é muito pulverizado, com 85% sendo composto por pequenos e médios pet shops, além de clínicas veterinárias. A participação no mercado da Petz é de somente 7%, mas detém mecanismos para financiar o crescimento para ampliar essa margem nos próximos anos.
Isso deve passar pela expansão no número de lojas, pelo crescimento de venda em canais digitais e pela construção de um ecossistema para gerar efeito de rede, diversificando produtos e serviços do segmento, seja por meio de inovação própria, seja por meio da aquisição de mais empresas. Esse cenário contribui para um aumento da monetização da base de clientes já existente e por sua expansão.
Assim, apesar das ações de Petz caírem, os resultados estão crescendo. Como o valor das ações no médio e longo prazo tende a acompanhar os lucros das companhias no longo prazo, há uma clara assimetria de informação em relação a esta empresa, algo pedagógico sobre disfuncionalidades do mercado financeiro no Brasil.