Infelizmente, é comum na cultura latino-americana o culto a heróis perversos, e isso não é diferente em relação a Ernesto Che Guevara, muitas vezes visto como símbolo de paz entre os povos e tolerância.
Em geral, não importam as bizarrices econômicas, tampouco o desrespeito aos direitos humanos, o que importa é o carisma e o rosto fotogênico para estampar camisas de milhares de ditos admiradores. Mas muito dessa devoção se deve por desconhecimento do que foi o verdadeiro “chancho”, como era chamado.
Nesse sentido, trouxemos 11 fatos sobre Che Guevara para desmistificar sua imagem de herói popular.
1. Che Guevara agia contra o princípio do contraditório e da ampla defesa
Em janeiro de 1959, Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido como Che Guevara, foi nomeado comandante do presídio do Forte de La Cabanã e chefe dos Tribunais Revolucionários que aconteciam ali.
Entre os julgados estavam revolucionários divergentes, adversários políticos e até mesmo familiares de refugiados de Cuba. Para decidir a vida de centenas de pessoas, Che nomeou Orlando Borrego como Juiz.
À época, Orlando era apenas um rapaz de 23 anos sem qualquer formação jurídica. Seu auxiliar, José Vilasuso, advogado recém formado em direito, escreveu sobre aqueles dias:
Os fatos eram julgados sem nenhuma consideração aos princípios de justiça.
Ele (Che) dava reprimendas em particular e em público, chamando a atenção de todos:
“Não demorem com esses julgamentos. Isso é uma revolução: provas são secundárias. Temos de agir por convicção.”
2. Che não apoiou o golpe cubano pelo ideal comunista
A Revolução Cubana se opôs à ditadura de Fulgêncio Batista. Vale dizer, foi acusado de ser comunista por Fidel Castro, devido às reformas intervencionistas que promoveu na década de 1930 após a Revolta dos Sargentos.
Assim, o movimento rebelde contava com diversos políticos moderados e até mesmo anticomunistas, mostrando que não foi o idealismo utópico de Marx e Engels que levou Fidel Castro a dar o golpe em Fulgêncio Batista.
Somente após a tomada pelo poder que o ex-ditador percebeu que o comunismo era um mecanismo eficaz de controlar o poder e eliminar adversários.
Assim, Che Guevara, auxiliou os Castro a tomar o poder, a despeito de Fidel se declarar opositor aos comunistas, conforme entrevista concedida ao New York Times, em abril de 1959.
3. Ditadura fazia parte da proposta dele
Após a derrota de Fulgêncio Batista, a sociedade cubana festejou: estava ansiosa para construir uma democracia. Mas a esperança da volta dos partidos e das eleições duraram tão somente 6 meses.
Depois, Castro e Che levaram a revolução para uma ditadura comunista, uma verdadeira “contrarrevolução”. Os cubanos que apoiaram o movimento rebelde em busca de liberdade foram iludidos.
4. Che Guevara perseguiu minorias e tentou reeducá-las nos seus moldes
Dentro do novo governo cubano, o argentino perseguiu jovens, músicos e artistas, pois acreditava que:
Para construir o comunismo, tem de se fazer o homem novo.
E, na prática, os intelectuais cubanos não estavam nos planos de construção desse novo homem.
Ao olhar de Che Guevara, o indivíduo não era um fim em si mesmo, mas apenas uma ferramenta para a revolução. Assim, matar ou sacrificar pessoas era racional e correto.
Conforme revelam seus diários e declarações, ele tinha uma crença de que a natureza humana é maleável, podendo ser ensinado diferentes comportamentos, bastando para tanto educar-lhe para o espírito revolucionário. Portanto, para ele, o socialismo tinha o poder de “curar comportamentos e doenças sociais”.
Além disso, Che era um dos mais convictos líderes homofóbicos da revolução. Segundo ele, “os jovens deveriam deixar de lado interesses individuais e colocar-se à disposição do governo”.
Logo, indivíduos pertencentes à comunidade LGBT; católicos, testemunhas de Jeová e sacerdotes do candomblé cubano; alcóolatras e, posteriormente, portadores de HIV foram perseguidos pelo governo cubano.
5. Che foi responsável pela criação de campos de trabalho forçado em Cuba
Em 1960, o primeiro campo de trabalho forçado de Cuba foi criado em Guanahacabibes. Lá, buscava-se reeducar pessoas consideradas pelo regime como imorais por meio do trabalho.
Na prática, a estrutura serviu de modelo para as Unidades Militares de Ayuda a la Producción (Umaps), que forçaram 30 mil pessoas a trabalharem para o regime cubano.
O caso foi denunciado em 1967 na Comissão Interamericana de Direitos Humanos:
“Os jovens são recrutados à força por simples disposição da política, sem que se faça nenhum julgamento, nem seja permitido direito de defesa. […]
Em muitas ocasiões os familiares só são notificados semanas ou meses depois da detenção. São obrigados a trabalhar gratuitamente na granja estatal por mais de 8 horas diárias e recebem um tratamento igual ao que se dá em Cuba aos presos políticos.
[…] Esse sistema cumpre dois objetivos: A) facilitar a mão de obra gratuita do Estado. B) Castigar os jovens que se negam a participar das organizações comunistas.”
Portanto, diante desses fatos, não é possível admirar Che Guevara como defensor das liberdades individuais.
6. Um símbolo de guerra e destruição
Já quem admira Che por ele simbolizar a paz deveria conhecer melhor o papel do argentino na Crise dos Mísseis de 1962. Nem Moscou e nem Washington consideravam uma boa ideia iniciar uma guerra nuclear, mas Che Guevara e o governo de Havana discordavam deles.
O recuo do Kremlin, com a consequente retirada dos mísseis da ilha irritou os líderes cubanos ao ponto de Che declarar em entrevista ao London Daily Worker que o governo cubano estava disposto a utilizar todos os mísseis, caso tivessem ficado no país.
Certamente, os Estados Unidos revidariam o ataque, provocando um massacre nuclear. Mas Che não parecia se importar com o povo cubano, afinal, nos dizeres dele “Cuba é o exemplo tremendo de um povo disposto ao autossacrifício nuclear, para que as cinzas sirvam de alicerce para uma nova sociedade”.
7. Che Guevara era racista
Outro interessante relato é o de Miguel Sanchez, recrutado por Fidel para ser instrutor militar dos cubanos que treinavam no México. Ele conta que o guerrilheiro menosprezava cubanos, índios, mexicanos e negros.
Ele era racista, víamos isso [principalmente] em seu contato com (o colega militar) Juan Almeida Bosques”.
Em 24 de junho de 1956, um grupo de expedicionários foi capturado pela polícia mexicana, junto com Guevara. Assim, com medo de ser deportado para a Argentina, o símbolo de coragem de muitas pessoas cooperou com as autoridades delatando seus companheiros.
Bem como, indicando que as armas de seu grupo estavam no rancho de Santa Rosa de Chalco, prejudicando, e muito, a luta da guerrilha a partir daí.
8. O rei dos fuzilamentos em massa
Vale dizer ainda que ele era chefe de uma das mais importantes colunas guerrilheiras na Campanha dos rebeldes em Cuba.
Deste período, há o relato de Roberto Bismarck, capitão do exército rebelde, que declarou que em certa operação militar foram presas algumas pessoas por supostamente colaborarem com o governo de Batista, mas nao havia provas disso.
Assim, Che Guevara, de forma arbitrária, disse: “(por serem colaboradores de uma ditadura) devem ser castigadas com a morte, mesmo sem nenhum julgamento”. Che não apenas disse que elas tinham de morrer, como matou dois deles, para repulsa de parcela da tropa.
O próprio Che Guevara pregava a necessidade das execuções, tanto em seu diário, ao dar detalhes delas, quanto em público. Neste sentido, o melhor exemplo foi de quando participou da Conferência das Nações Unidas em 1964 quando ele declarou:
Sim, temos fuzilado. Fuzilamos e seguiremos fazendo isso enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta à morte.
Ao todo, Che Guevara é envolvido em pelo menos 144 mortes, segundo o Projeto Verdade e Memória, da organização Arquivo Cuba. No entanto, essa relativização de Direitos Humanos é típica de marxistas, que argumentam caráter subjetivo.
9. Tirano e incompetente
Há ainda o mito de que Che Guevara era um bom guerrilheiro tecnicamente. Entretanto, vários companheiros afirmavam que ele não estava capacitado militarmente falando.
Um deles, Huber Matos, ex-comandante do exército rebelde, foi taxativo:
No âmbito militar [ele] não sabia nada.
Ao explicar que Che Guevara desconhecia o que era e como fazer uma “linha de fortificação”, um procedimento básico defensivo.
Contudo, a despeito de sua incapacidade como militar, os rebeldes derrubaram a ditadura de Fulgêncio Batista.
Após a revolução, Che Guevara passou a ocupar o cargo de presidente do Banco Nacional e, posteriormente, ministro da Indústria de Cuba. No entanto, ele não se mostraria mais habilidoso como burocrata que demonstrou como guerrilheiro.
10. Che Guevara se opunha a incentivos materiais para bons trabalhadores
Para incentivar os cubanos a trabalharem mais, ele propunha o controle, a punição e o castigo pelo estado cubano. Assim, acabou com a possibilidade de ter ganho individual por maior produtividade, bem como com os direitos de propriedade.
Ele defendia que “o governo precisa castigar aqueles trabalhadores que não cumprem seu dever. Aqueles que se mostram mais preguiçosos precisam passar por uma reeducação ideológica.”
Além disso, Che expôs ainda na Nota sobre o Manual de Economia Política da Academia de Ciências da URSS que “o não cumprimento da norma significa o não cumprimento do dever social. […] “O controle administrativo deve ser o mesmo que o controle ideológico”.
11. Resultados piores do que o embargo norte-americano
Como responsável pela Reforma Agrária, Che buscou diversificar a economia cubana, diminuindo a área cultivada de cana-de-açúcar, resultando no colapso da indústria de açúcar sem o crescimento de outras atividades.
Em 1961 e 1962, metade da produção de frutas e verduras apodreceu por não haver trabalhadores no momento adequado para a colheita. Além disso, faltava arroz, feijão, ovos, leite, óleo e todos os tipos de carne, menos de dois anos após a revolução. Por fim, para combater a escassez de alimentos, implementou o carnê de racionamento, tão odiado pela população cubana.
Como ministro da Indústria, Che determinou uma ambiciosa meta de crescimento de Cuba de 15% ao ano e previu a autossuficiência do país em alimentos e matérias-primas agrícolas, com o aumento do consumo de alimentos em 12% ao ano. Além disso, decidiu investir na industrialização, importando uma obsoleta fábrica da República Tcheca para a produção de geladeiras e cafeteiras, bem como ferramentas, sapatos e lápis.
No entanto, devido ao colapso da indústria de açúcar, o país não tinha capital para financiar sua industrialização. A escassez atingiu itens industrializados básicos, como sabão, detergente, sapatos e pasta de dente.
A despeito dos líderes cubanos responsabilizarem o embargo norte-americano por seus fracassos, o próprio Che Guevara desejou o embargo, segundo Humberto Fontova, autor de O verdadeiro Che Guevara.
Em diversas passagens de seus textos o guerrilheiro demonstra que não desejava manter relações com os Estados Unidos.
Entre as consequências da política econômica iniciada por Che Guevara está a queda do consumo de alimentos por sua população. Na contramão do desenvolvimento social, de terceiro país no ranking da América Latina de consumo per capita de calorias, com 2.700 calorias em 1950, caiu para 2.300 calorias.
Para se ter ideia da destrutividade da socialização dos meios de produção, vale conhecer o estágio de desenvolvimento de Cuba comparada a outros países da América Latina antes da revolução.
Inclusive, alguns socialistas mais pragmáticos ainda defendem que “os fins justificam os meios”, mas os dados de Cuba não mostram avanço.
Considerações finais
A conclusão é que o guerrilheiro marxista é um mito, construído ao longo de várias décadas. Afinal, o tempo, muitas vezes, santifica os homens.
Mas, embora o argentino simbolize muita coisa, se você realmente preza pela paz, pelos direitos humanos, pela liberdade e pelo bem-estar dos mais pobres, não pode defender Ernesto Che Guevara.