A participação em debates eleitorais entre quem lidera uma disputa majoritária é sempre controversa. Afinal, se você é o favorito para vencer, por que arriscar-se cair em uma casca de banana? O risco de downside (parte negativa) costuma ser maior do que o upside (benefício) de participar. Naturalmente, isso tem ocorrido na disputa presidencial em 2022 também.
Os líderes nas pesquisas eleitorais para a presidência da República, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) desistiram de participar do debate presidencial que ocorreria no início de agosto, promovido pelo consórcio de imprensa. Apesar de outros candidatos estarem dispostos a irem ao evento e apresentar suas ideias e posições, a ausência de ambos acabou por cancelar o evento.
Afinal, por que ir em um debate na televisão se atualmente é possível ir a um podcast para, basicamente, expor por horas um monólogo? Tanto Bolsonaro no Flow, quanto Lula no Podpah demonstraram a preferência.
O quarto poder, a imprensa, apresenta ambiente muito mais hostil em sabatinas, entrevistas e debates, além do tempo escasso. Há regras estipuladas pela própria legislação eleitoral, e o risco de respostas em falso, gafes e exposição diante de candidatos de menor expressão.
Lula, por exemplo, participou do Podpah por duas horas ininterruptas. Não havia comerciais e nem perguntas desconfortáveis. Ele contou sua narrativa como bem quis, sem grandes questionamentos. Isso ocorreu de forma similar com Bolsonaro, que explorou cinco horas consecutivas.
Esse nível de exposição é infinitamente superior ao tempo de propaganda eleitoral e debates. Enquanto Lula terá pouco menos de quatro minutos, Bolsonaro terá cerca de três.
Lula alcançou em sua experiência mais de 250 mil views simultâneos e, desde o episódio, alcançou 9 milhões de views. Já Bolsonaro atingiu 550 mil views simultâneos e 15 milhões de views até o momento.
Apesar do número expressivo, a audiência na televisão é muito superior. Contudo, a participação online gera diversos cortes e vídeos curtos a serem compartilhados em redes sociais diversas por apoiadores e em canais oficiais. Influenciadores, veículos da imprensa e portais e usuários de redes sociais comentam o episódio, gerando centenas de milhões de comentários e conteúdos de mídia espontânea.
Por trás desses episódios está o fato de que os incentivos da política quase nunca são virtuosos. Desde 1989, houve diversos casos de candidatos que lideravam as pesquisas e deixaram de participar de debates. Fernando Collor (1989), Fernando Henrique Cardoso (1998) e Lula (2006) notadamente evitaram debates para diminuir riscos de serem derrotados.
Agora, Lula e Bolsonaro escolheram fugir em busca de ambientes mais amenos e controlados para expor suas ideias. Contudo, se Collor, FHC e Lula foram extremamente criticados naquelas oportunidades, hoje Lula e Bolsonaro são aplaudidos por seus respectivos fã-clubes por terem uma postura antidemocrática por essência.
Participar de debates? Só quando convém
Posteriormente, todos os candidatos participaram do debate promovido pela Band, que teve alta repercussão. O desempenho de Lula, no entanto, foi considerado aquém, enrolando-se ao ser confrontado sobre os escândalos de corrupção em seu governo e sendo alvo da maioria dos adversários. No debate seguinte, realizado no SBT, a campanha petista optou pela não participação.
A despeito de liderar a maior parte das pesquisas, Lula opta por não deixar claro seus planos em caso de eventual retorno ao Palácio do Planalto. Além de restringir a participação nos debates, como mencionado, decidiu não divulgar seu plano de governo, com receio de perder votos e apoios políticos. Novamente, os incentivos políticos nem sempre são virtuosos, e não divulgar suas ideias e propostas corrobora para o aumento de assimetria de informação, tão típico do processo político.